sexta-feira, 9 de agosto de 2013

ENTREVISTA A ANNA LUÍSA GOMEZ


DL: Como é que tudo começou? 
AG: Eu estava numa fase frágil após o meu melhor amigo ter falecido. Era o Chazz Pavel. Naquela altura precisei muito de apoio e esse apoio veio maioritariamente do Gonçalo. Ele estava sempre comigo, a toda a hora. Esforçava-se para me animar, e efectivamente só ele é que conseguia fazê-lo. Foi a partir daí que dei por mim a começar a pensar nele, mas julgava que eram apenas fantasias da minha cabeça.

Fantasias essas que foram postas em prática. Quem é que deu o primeiro passo?
Sinceramente eu não me lembro. Ainda andei uns tempos a pensar nele, e cada vez pensava mais. Não conseguia controlar isso, mas julguei que era só uma panca, todas temos isso. Só que não era e um dia tornou-se mesmo incontrolável. Lembro-me que foi ele que me beijou, mas eu já tinha andado de volta dele minutos antes. A bem dizer acho que foi mútuo...

Antes dessa situação do beijo falou com o Gonçalo sobre aquilo que lhe passava pela cabeça?
Não, não podia. Ele era meu cunhado, era um miúdo. Eu só queria era tirá-lo da cabeça a todo o custo e continuar a minha vida casada com o Gustavo.

Mas não conseguiu e acabaram por se envolver. O que é que sentiu quando percebeu o que estava a fazer?
Um misto de tudo. Senti-me culpada, senti nojo de mim mesma. Mas ao mesmo tempo não conseguia tirar o Gonçalo da cabeça e isso era uma coisa demasiado forte para eu ignorar. Tentei o máximo que pude, mas não deu. E depois a culpa passou a ser em relação ao Gonçalo. Custava-me muito que ele tivesse que passar por tudo aquilo.

E o Gustavo? Ele não desconfiava? Ou vocês simplesmente não estavam juntos na presença dele?
Estar tínhamos que estar, morávamos na mesma casa. E no fundo acho que o Gustavo começou a desconfiar a partir de certo ponto, simplesmente não quis acreditar que era verdade. E entende-se porquê...

E quando engravidou do Lourenço? Sabia que o pai era o Gonçalo?
O meu primeiro pensamento foi a dúvida, mas depois raciocinei e só podia ser o Gonçalo. Eu já não me envolvia com o Gustavo há muito tempo. Não dava para ter havido uma concepção.

Quando soube que estava gravida não lhe passou pela cabeça desvendar tudo e admitir tudo aquilo que tinha com o Gonçalo?
Passou. Mas o Gonçalo é irmão do Gustavo, e isso sempre foi uma coisa que pesou muito. Eu não queria que ele perdesse o respeito da família. Admitir tudo só daria nisso.

Foi uma decisão conjunta omitir isso do Gustavo?
Foi uma decisão pesada para um só ombro, como deve calcular. Tivemos que conversar e decidir o que íamos fazer. As únicas hipóteses eram nunca mais termos nada e eu ficar com o Gustavo, o que acarretava sermos infelizes porque nos amávamos, por mais que as pessoas achem que foi só por sexo. Não foi. A outra hipótese era omitirmos, embora isso acarretasse um sentimento de culpa muito grande e o facto de não podermos ser felizes juntos nem o Gonçalo ouvir o Lourenço chamar-lhe pai algum dia. A terceira hipótese era eu separar-me do Gustavo e ficar com o Gonçalo, mas isso iria na mesma tirar-lhe o consentimento e o respeito da família.

Mas foi o que acabou por acontecer.. O Gustavo descobriu tudo, pediu o divórcio e acabou por ficar com o Gonçalo independentemente do que a família achava. Quer falar um pouco sobre isso?
Bem, eu podia dizer que foi o que sempre quis, mas a verdade é que não foi fácil. Eu podia não estar bem com o meu casamento, mas tinha e tenho o Gustavo em grande estima. Tinha imenso carinho por ele, estava-lhe grata por muitas coisas que me tinha proporcionado, sabia que existiam aspectos da nossa vida que não se iam repetir com mais ninguém. Não lhe posso dizer que algum dia deixei de amar o meu marido, foi por isso que foi difícil vê-lo ir embora. E mais difícil ainda foi saber que bastava eu querer e lutar um pouco, que poderia tê-lo de volta.

Deixar o Gonçalo e voltar para o Gustavo?
Existiram muitos momentos de dúvida, sim. Foi um momento complicado, não sabia o que queria ao certo.

Há alguma coisa que queira esclarecer?
Vai ficar sempre alguma coisa por esclarecer porque, se quer que lhe seja sincera, nenhum dos dois teve ainda uma conversa a fundo comigo em que eu pudesse falar sobre tudo. Por isso sei que vão haver sempre mal entendidos, coisas que se pensam erradamente, sentimentos mal resolvidos...e é normal, é uma história complicada. Mas como já referi, eu e o Gonçalo não nos envolvemos por uma questão sexual. Foi por gostarmos um do outro. E como é que eu me apaixonei pelo irmão do meu marido? Como é que ele se apaixonou pela namorada do irmão? Também não sei. Sei que aconteceu. Como se costuma dizer, o coração tem razões que a própria razão desconhece.

-Francisca